Não gosto do provisório. As
coisas provisórias trazem em si o gosto do não ser, já sabemos, de antemão, que
não ficarão por muito tempo. Uma vez disse a alguém que eu era conservadora,
digo no sentido genuíno desta palavra e no que se refere estritamente à minha
vida. Gosto de conservar. Conservar amigos, o amor, a moradia, as lembranças,
as coisas boas, e situações de conforto.
Compreendo e sei racionalmente que, em certa medida, esse é um projeto
falido: ser conservadora. Contudo, não sei
me entregar ao provisório, ele me cheira ao não confiável, é permeado do vazio, já se evapora e não
consigo segurar em suas mãos. Só sei me
entregar ao que, pelo menos, se apresente com a promessa do estável, do que pretende perdurar, criar raízes, ter
história, se de-morar, mesmo que um dia se vá. As coisas e situações que já pretendem
se instalar desde sempre como provisórias, têm cheiro do descartável, dessas
coisas da moda, de prato e copo de aniversário, do que se usa apenas
convenientemente e logo não se precisa mais, joga-se fora. Ou então coisa de
baixa qualidade, que logo vai quebrar, dar defeito, enfim... O provisório desde sempre não quer vínculo,
laços, caminho, estrada, memória, verdade. Tem gosto do passageiro,
impermanente, instável, sem consistência, prestes a sumir, desaparecer. Mesmo
nós somos provisórios, bem sei, a qualquer momento já não seremos, não
existiremos, vem a morte. Mas na vida a promessa do estável nos traz um gosto
de duração, tranquilidade, segurança, paz e permite planos. Paz tem esse gosto de comunhão com o absoluto
do tempo, com o universo, com a própria vida. O diacho é que, depois de tantas promessas
descumpridas do estável e tantos atropelos do provisório não mais acredito em
nada. E a vida segue assim, sem premissas, como deve ser. Quem sabe?...
Denise Magalhães
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