quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tempo


Garças brancas saltitam eu

Morro tanto que nem sei...
Canecas, pratos, chuvas e trovões.

Experimento nuvem.


Uma varanda me habita.

Todos os dias
aguardo distraída
o avermelhar das pitangas

Quando elas me chamam,
saboreio quintais
com um vestido de florzinha

Não que eu não queira viver,
Isso não!

Denise Magalhães

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Envenenada

Corra que estou plantada neste chão
e minhas raízes são venenosas
O zunido das palavras me saturam
uma vertigem às vezes me ocasiona
mas um silêncio enorme me acode
Minha cabeça é feita de pássaros
meu tronco apodrece dia a dia
agonia é dobra de tempo
Mas não há desespero,
entre asinhas perversas descubro:
a tormenta é feita de vozes.

Denise Magalhães

Dedicatória

Não penses que me tens
meu querido bem
Veja que nem eu mesma me tenho
Se o amor é passgeiro
eu o sou mais ainda
pouca coisa ainda me assombra
Não é a solidão o que me devora
Mas a sombra da infância
e desta não se liberta por inteiro.

Denise Magalhães
Desatino

Quando me destruo
sou de um requinte absurdo
Me desfaço de qualquer armação humana
Sou qualquer coisa amorfa
endiabrada e fedorenta
sou feliz.
Mas aí vem aquela vozinha insosa
falando de equilíbrio.
Por favor não me socorram
Sou tecida de caos
Não quero o céu
Quero o inferno
Pois que arder
é o verbo que me conjuga.

Denise Magalhães

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Piedade

Ai, que aí vem ela
Já, me ronda a doida
Tonta e descabelada

Já, escapo disso que ora sou
Ela me domina o corpo e a alma

(Não tem piedade de mim)

Já, não me encontro mais.
Pronto!

Mas ela é mais sã do que eu
É o que me salva.



Denise Magalhães

terça-feira, 14 de setembro de 2010

...


Choro meu corpo

Sinto a voz dele em cada músculo

Suas pálpebras salgadas

Estão lá nas costas

Sem as mãos doces para fechá-las

Lentamente



Denise Magalhães

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Distâncias

Ando tão longe esses dias...
É inverno e me estreito a mim
e a tudo em minha volta.
À tardinha subi na montanha
e engoli um horizonte enorme,
pincelado de neblina.
Faltou fôlego,
Faltou espaço em meu corpo
pra respirar essa imensidão
É que minha alma estava desprevenida
e fez lágrima.

Denise Magalhães

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Oração

O sol, de manhanzinha,
abre seus olhos coloridíssimos!
O descampado verdinho,
da beira da estrada,
se encomprida lá...no fim da vista.

Não sei quantos passarinhos,
no finalzinho da tarde,
se encontram nas árvores do quintal
em conversinha animadíssima!

Meu filho me olha,
e seu olhar sou eu,
como era no princípio
e agora
e sempre,

Amém.


Denise Magalhães

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Lugar

Não me procures em mim, meu bem
Não tenho porto onde ancorar-me
Finjo que vou
para não sei onde
já que preciso ir.

Mas não se engane,
não sou daqui,
nem de lá,
de não sei onde

Eu passo por mim,
não sou de mim,
não tenho onde morar.


Denise Magalhães

segunda-feira, 15 de março de 2010

Fotografias



Sou emocionalmente caótica

e é tão bom que seja assim...

Não me ajusto

e sofro até onde preciso

(sempre se precisa sofrer).

Além disso tenho um terrível hábito:

quase sempre recorto os momentos

e pinto-os de eternidade

assim eles se intensificam.

Algumas vezes tanto

que ficam disformes

se encompridam

demoram

desfiguram

Ah! Meu amor!


Denise Magalhães

sábado, 9 de janeiro de 2010

A lua canta a cada ciclo a solidão do poeta
Pendurada na janela a solidão me olha:
estou escondida entre as flores da sacada.

Denise Magalhães
Preciosidade


Meu querido menino selvagem
Minha noite mais enluarada
Meu mais doce pecado
Minha vertigem
Meu deleite
Não sabes o que sois
Assim em mim
Meu ninho
Solzinho
Sozinho
Em sim

Denise Magalhães