segunda-feira, 18 de junho de 2012

Carta para o fundo do mar


Meu querido,

Sei que os cabelos brancos que hoje vejo em mim, você também já deve ter em seu espelho, e que há muito, muito mesmo, não nos vemos ou falamos, e sequer sei onde moras. Mas escrevo-lhe deste lugar da vida para lhe agradecer pela eternidade vivida ao seu lado, há quem jamais a experimente. Ao seu lado, toda a adolescência, o primeiro beijo, o primeiro arrepio de desejo, o encontro às escondidas. Ao seu lado, o coração acelerado na pracinha do interior onde morávamos, as festinhas de quinze anos, os verões na praia, o carro emprestado do pai e toda a estrada pela frente para percorrermos juntos. Ao seu lado o amor mais puro, o futuro incontestável, o companheirismo garantido, os nomes dos filhos já escolhidos e o coração para sempre aquecido. Mas a vida se fez fissura e ficamos em lados opostos. Hoje, depois dos casamentos, filhos, separações, agradeço-lhe por aquela certeza, que só acontece uma vez na vida. Agradeço-lhe porque hoje, ao ouvir a "nossa" música, eu posso voltar àquele lugar, vivo de sonhos, sem nenhuma dúvida, que jamais se repetirá, e experimentá-lo novamente, com suavidade. Continuo seguindo adiante, com coragem, a vida e suas marés, mas nunca perderei esse lugar de vista, no fundo do mar. Fique bem.

De um barco na ventania,
 
 
Denise Magalhães

2 comentários:

Luciano Fraga disse...

Arrepiante! Uma verdadeira volta no tempo, na memória.

Denise disse...

Oi Luciano, tem lugares no tempo que nos trazem boas e suaves lembranças, afinal o passado nos constitui no presente...bjo