sexta-feira, 20 de março de 2009

Carta que não sabe dizer nº 1

Serei sincera e breve neste escrito não classificado. Estarei nua e outra em cada palavra que chegue. Verterei sangue e flores azuis, mas sobreviverei. Sobre todas as coisas que já são nossas digo: um homem não poderia evitar o brilho da lua ou a correnteza dos rios. Agora me diga amor, sob seu olhar primaveril, quem sou eu? Sob o seu olhar matreiro, quem posso ser? Já não me explicito em mim mesma. Se me traduzes me fale, pois já não sei dizer de mim, do que sou ou posso ser. Meu caminho é em viés. Você me contorna enquanto espaireço por aí. Já não sei bem dizer, não sei dizer bem. As palavras são traiçoeiras, gostam de brincar de nos fazer, fogem e me desfaço, surgem e por um milésimo de segundo me tenho. Mas as palavras são frágeis, são crianças. Sou quase sempre sem palavras, mas não me importo, elas que corram atrás de mim. Eu? Eu mesma? Chego antes, como vazio, disforme, elas que me encontrem e me revelem, não preciso disso. Viver vem antes de qualquer palavra. Viver é este instante, esse passo no ar, esse entre, que escapole, salta. As palavras que me encontrem nesse já, onde vou sendo por aí. Esse é o instante que não consigo dizer, onde as palavras não chegam, e só existe viver.
Saudações vertiginosas
Denise

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