Li o belíssimo texto sobre o envelhecer "meu, nosso e vosso Destino"de Ângela em seu blog Aeronauta http://wwwaeronauta.blogspot.com.br/, e lembrei-me deste meu escrito, já postado há algum tempo neste blog; talvez porque tenha a ver com velhice e certas estranhezas outras "impróprias" para a idade.
Vertigem
Olho minha aparência bem comportada
E vejo um rosto enfurecido
Uma cabeleira desgrenhada
Numa armação esquisita.
Olho minhas mãos envelhecendo
E vejo uma textura opaca
Veias sobressaltadas
Riscos de memórias.
Nos meus dentes escovados
Restos de minha própria carne.
Dentro de mim, esse bicho
Sempre à espreita
Rondando, faminto.
Se me distraio ele ataca.
É sempre assim,
Esses olhos de cão sobre mim,
Esse tempo sanguinário,
Essa alma insana
e essa louca
a gargalhar por onde passo,
Como morte,
como algoz,
como sentença,
em mim.
Denise Magalhães
sábado, 30 de junho de 2012
terça-feira, 19 de junho de 2012
Chiquinha Gonzaga nasceu no Rio de Janeiro em 1847. Foi a
primeira compositora popular no Brasil, primeira pianista de choro, compôs a
primeira marcha carnavalesca – Ô Abre Alas/1899- e foi a primeira mulher a
reger uma orquestra no país; sofreu muito preconceito da sociedade da época . Em maio deste ano foi sancionada a Lei 12.624
que institui o Dia Nacional da Música Popular Brasileira, 17 de outubro, data
de nascimento desta compositora e maestrina. Seu primeiro sucesso foi a polca
Atraente, 1877. Foto de Chiquinha Gonzaga aos 78 anos.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Carta
para o fundo do mar
Meu
querido,
Sei
que os cabelos brancos que hoje vejo em mim, você também já deve ter em seu
espelho, e que há muito, muito mesmo, não nos vemos ou falamos, e sequer sei
onde moras. Mas escrevo-lhe deste lugar da vida para lhe agradecer pela
eternidade vivida ao seu lado, há quem jamais a experimente. Ao seu lado, toda
a adolescência, o primeiro beijo, o primeiro arrepio de desejo, o encontro às
escondidas. Ao seu lado, o coração acelerado na pracinha do interior onde
morávamos, as festinhas de quinze anos, os verões na praia, o carro emprestado
do pai e toda a estrada pela frente para percorrermos juntos. Ao seu lado o
amor mais puro, o futuro incontestável, o companheirismo garantido, os nomes
dos filhos já escolhidos e o coração para sempre aquecido. Mas a vida se fez
fissura e ficamos em lados opostos. Hoje, depois dos casamentos, filhos,
separações, agradeço-lhe por aquela certeza, que só acontece uma vez na vida.
Agradeço-lhe porque hoje, ao ouvir a "nossa" música, eu posso voltar
àquele lugar, vivo de sonhos, sem nenhuma dúvida, que jamais se repetirá, e
experimentá-lo novamente, com suavidade. Continuo seguindo adiante, com coragem, a
vida e suas marés, mas nunca perderei esse lugar de vista, no fundo do mar. Fique
bem.
De um barco na ventania,
Denise
Magalhães
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Irmandade
Na madrugada silenciosa
O lamento comprido de um cão
Vem de não sei onde
Como uma melodia horripilante
Um clamor não se sabe do que
Nem para quem
No cão,
É feito esse uivo rasgado
Forjado em seu instinto
Incompreendido
Grito saído de si mesmo
Sem qualquer sentido
Para ele
Que apenas porta
o uivo solitário das
correntes
que o encerram em sua
animalidade
Meu corpo compreende
Essas notas em sangue
Há muito silenciadas
Em sua estranha natureza
Agradeço ao cão por me libertar
Por dizer assim
o que jamais saberei uivar.
Denise Magalhães
sexta-feira, 8 de junho de 2012
sábado, 2 de junho de 2012
sexta-feira, 1 de junho de 2012
Os pés
Emoldurados na bainha do jeans
Displicentemente enchinelados
Totalmente descontextualizados
Sem qualquer individuação
delicadeza
ou compustura
delicadeza
ou compustura
Eles se exibem
devassos
devassos
Ali, no centro da sala
cheia de cadeiras,
pessoas, vozes
E me retiram do recinto
Inescrupulosamente
Masculinos
Masculinos
Denise Magalhães
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