Carta
para o fundo do mar
Meu
querido,
Sei
que os cabelos brancos que hoje vejo em mim, você também já deve ter em seu
espelho, e que há muito, muito mesmo, não nos vemos ou falamos, e sequer sei
onde moras. Mas escrevo-lhe deste lugar da vida para lhe agradecer pela
eternidade vivida ao seu lado, há quem jamais a experimente. Ao seu lado, toda
a adolescência, o primeiro beijo, o primeiro arrepio de desejo, o encontro às
escondidas. Ao seu lado, o coração acelerado na pracinha do interior onde
morávamos, as festinhas de quinze anos, os verões na praia, o carro emprestado
do pai e toda a estrada pela frente para percorrermos juntos. Ao seu lado o
amor mais puro, o futuro incontestável, o companheirismo garantido, os nomes
dos filhos já escolhidos e o coração para sempre aquecido. Mas a vida se fez
fissura e ficamos em lados opostos. Hoje, depois dos casamentos, filhos,
separações, agradeço-lhe por aquela certeza, que só acontece uma vez na vida.
Agradeço-lhe porque hoje, ao ouvir a "nossa" música, eu posso voltar
àquele lugar, vivo de sonhos, sem nenhuma dúvida, que jamais se repetirá, e
experimentá-lo novamente, com suavidade. Continuo seguindo adiante, com coragem, a
vida e suas marés, mas nunca perderei esse lugar de vista, no fundo do mar. Fique
bem.
De um barco na ventania,
Denise
Magalhães
2 comentários:
Arrepiante! Uma verdadeira volta no tempo, na memória.
Oi Luciano, tem lugares no tempo que nos trazem boas e suaves lembranças, afinal o passado nos constitui no presente...bjo
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