Carta para os que gostam da solidão de si:
O Estranho mundo das providências
me absorvem cotidianamente, me arracam violentamente de mim mesma e me
transforma em um modo de ser público, tumultuado, atormentado de tantas vozes,
solicitações, premências. Passo por este perigo alienígena todos os dias, todas
as horas. Por isso é preciso que eu esteja sempre atenta para não me perder, não
sumir de mim. Preciso sempre me recolher no resguardo da minha singularidade,
no silêncio da minha unicidade em meio a esse emaranhado de coisas, pessoas,
afazeres. Preciso estreitar-me na estranheza familiar de mim mesma, no convívio
íntimo e apaziguador de meus fantasmas, medos, no onírico, no meu dessaber de
mim mesma, da vida, e de tudo o mais, no nada. Aquietar-me nas minhas
idiossincrasias, no abraço branco e confortante das paredes de minha casa, nas
sombras do meu quintal. Assim, ouço ao longe as agitações da cidade, mas elas
não mais me atingem. Estou protegida no meu nada, completa e só. Na serenidade
do mistério de tudo que não preciso saber, não quero saber, só quero estar nele
e deixá-lo assim, como mistério, em mim. Com todo o seu tremor, temor e abismo.
Essa é a sagrada vertigem da vida. Que consagro e que me deixo ser levada, onde
gosto de demorar-me, onde me encontro genuinamente, e tenho paz.
Vertiginosamente,
Denise Magalhães
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