Agora que você me lê, você pode me ver, sentindo qualquer coisa ou muitas coisas. Bem, escrevo para esticar um risco entre eu e você a não sei quantos quilômetros. Para esticar não sei quantas palavras, que se alongaram para chegar até você e por isso talvez você não as compreenda. Tente formatá-las encolhendo esse traço esticado feito corda de caneta azul, bic, com tampa, que vai ao som de Path Smith e Marianne Faithfull. Talvez demore um pouco pra você compreender porque não sei quantas voltas a terra vai dar em torno de si mesma até isso chegar até você. Mas isso não é o que estou dizendo, o que estou dizendo não posso escrever, está na corda de caneta azul, esticada, no traço da tinta que sai de mim e chega até você para você arrumar, certo? Sei que você saberá o que é, eu apenas escrevo o aqui e agora, saindo sem planejar, e sai isso que você está lendo. Eu gosto de escrever assim, sem assunto ou com muitos assuntos, todos os assuntos sem dizer o que são. Pra que tantos assuntos? Basta que eu chegue até você através desse monte de palavras ermas, loucas, sei lá... sou eu enfim que estou chegando aí, assim como sou, no momento já. Quando essa folha acabar eu acabo de escrever. Meu limite é o papel, que também é meu labirinto, meu esconderijo, meu tudo e meu nada. Escrevo assim, sem compromisso com a coerência ou com uma ordem de significados. Assim sinto-me livre para deixar fluir, porque sei que você me entende, então escorro por esse papel, escorro até você, porque só sei escorrer pela vida, escorro para encharcar você do que não consigo dizer, porque não sei dizer ou porque não se pode dizer. Pois é, eu sou assim, fluida, e mudo muito, o tempo todo, às vezes sem perceber já sou outra. Ocorre que talvez eu seja um pouco de todo mundo e como é muita gente que existe em mim, deve ser por isso que eu mudo tanto, sou tantas. Então, só fica essa linha imaginária, etérea e forte que me leva a escrever.
Até mais, clandestinamente
Denise
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