quarta-feira, 18 de julho de 2012


Da inconsistência


Como se ser diante dos homens tristes
Dos homens crentes de toda razão
Da verdade de suas vidas e da dos outros
Como se a verdade fosse algo de verdade

Como se ser diante de olhos ressequidos
Como dos bonecos de pano
Costurados sob medida
Sem o gosto oco do humano

Denise Magalhães


sábado, 7 de julho de 2012

Cena do filme Janis e John


Acima, a bela Marie Trintignant interpretando Kozmic Blues em cena da comédia francesa “Janis e John”, onde seu personagem interpreta Janis Joplin. Este foi o último filme concluído pela atriz francesa, que foi morta pelo namorado cantor em 2003.

quinta-feira, 5 de julho de 2012


Coisas do sangue

Agora dei para desconversar sobre a solidão. Percebi isso há pouco, conversando com uma amiga. Des-conversar, não conversar, sobre a solidão. Talvez porque eu seja já a solidão. Agora, pensando neste momento sobre isso, enquanto escrevo, penso que não estou mais me sentindo só, pois que já sou a própria solidão. Ela é tão eu e eu sou tão ela que falar sobre, é muito difícil. Falar sobre algo que nos acomete talvez seja mais fácil. E falar da solidão não é falar sobre algo que me acomete, não me sinto mais só, pois que sou a solidão. Não mais a vejo, é como estar na água e por isso não ver a água, ou como o sangue que corre em nossas veias e não o vemos, nem mesmo pensamos ou falamos sobre ele, somos o nosso sangue. A solidão sou eu como sou meu sangue. Não entendo do sangue, não sei direito do que se constitui, como se movimenta, precisaria estudar biologia, bioquímica, sei lá. Sei que não me interesso em saber sobre o meu sangue, nem mesmo fazer aqueles exames enormes que classificam e dizem tudo sobre como está o sangue, se estamos com alguma doença, ou precisando de algum medicamento para fortalecê-lo, para continuarmos vivos. Não me interesso em saber como se constitui a solidão em mim, e o bom é que da solidão não se faz exames, não temos como saber se está fraca nem o que precisamos melhorar nela para continuarmos vivos. Talvez fosse bom sabermos quantificar e classificar a solidão para sabermos como mantê-la na justa medida da manutenção da vida. Pois é, da solidão não mais me ocupo, não vejo necessidade, nem vantagem, nem por quê. Talvez por isto tanto des-converso. Não sei mais falar da solidão, como geralmente não sabemos falar do nosso sangue. Não sinto mais a dor da solidão, como também não sentimos dor enquanto nosso sangue percorre nosso corpo. Do nosso sangue só nos damos conta se falamos sobre ele, da minha solidão também. Talvez tenha me desinteressado sobre o assunto, não quero saber da minha solidão, do meu ser solidão, nem fazer exame de sangue. Tenho que viver mesmo, então...é isso. Se algum dia eu ficar muito doente, provavelmente farei alguns exames de sangue e quem sabe as lâminas do laboratório indicarão a quantas anda a minha solidão.

Denise Magalhaes