quarta-feira, 30 de maio de 2012

Interiores

Diante da porta fechada
o transeunte anônimo
a cidade alienígena
Atrás da porta
minha casa em labaredas.

Denise Magalhães



Todas as manhãs
os dias
e os olhos vitrificados
mortos no domingo.

Denise Magalhães
Labirinto


Toda madrugada
esta onda
e seus braços enormes
seu rosto mascarado
açoitando meu corpo
profanando as lembranças
trancadas para sempre
no doce sepulcro da infância.

Denise Magalhães
A casa

Batem à porta
mas o que vejo
é o vazio de mãos humanas
Batem à porta
mas o que ouço
é o eco feliz da infância
Batem à porta
mas o que toco
é o peso maciço da solidão


Denise Magalhães

sábado, 19 de maio de 2012


Da madureza


Não quero que me compreendam
que me sigam
me aceitem
Já não preciso de aprovações
Licença da idade, talvez
Dos amargos da vida
Não queiram nem saber de mim
Agora sou trem descarrilhado
Rio fora da margem
Ventania sem direção
Se espalhando pelo céu
Devorando  a vastidão
Como é bom esse des-controle
De mim           
Tão solta
 Tão sim

  Denise Magalhães




quarta-feira, 16 de maio de 2012

Do cantar


Canto lá no meio do mato
Longe e em meio a tudo e todos
Que não me ouvem ou entendem
Pois que canto o canto em extinção
Canto para muitos
Ocupados com seus  quintais
Canto por sobre as cercas
Para horizontes  não inaugurados
Esse canto insólito,
Fora de moda
Nesses tempos
Para me sentir digna
De estar aqui
E da minha vida
É canto de sentido
Rico de solidão
 estofo
Na contramão.

Denise Magalhães






sexta-feira, 11 de maio de 2012



Alívio


Cresce em mim
o lugar nenhum:
 lapsos de memória
espasmos pelo corpo
um não saber,
um não sei quê.
Por aí,
Outra e só
Não encontro meu rosto
Sumido de mim
Enfim
Agradeço.

Denise Magalhães


segunda-feira, 7 de maio de 2012

domingo, 6 de maio de 2012


Carta para os que gostam da solidão de si:


O Estranho mundo das providências me absorvem cotidianamente, me arracam violentamente de mim mesma e me transforma em um modo de ser público, tumultuado, atormentado de tantas vozes, solicitações, premências. Passo por este perigo alienígena todos os dias, todas as horas. Por isso é preciso que eu esteja sempre atenta para não me perder, não sumir de mim. Preciso sempre me recolher no resguardo da minha singularidade, no silêncio da minha unicidade em meio a esse emaranhado de coisas, pessoas, afazeres. Preciso estreitar-me na estranheza familiar de mim mesma, no convívio íntimo e apaziguador de meus fantasmas, medos, no onírico, no meu dessaber de mim mesma, da vida, e de tudo o mais, no nada. Aquietar-me nas minhas idiossincrasias, no abraço branco e confortante das paredes de minha casa, nas sombras do meu quintal. Assim, ouço ao longe as agitações da cidade, mas elas não mais me atingem. Estou protegida no meu nada, completa e só. Na serenidade do mistério de tudo que não preciso saber, não quero saber, só quero estar nele e deixá-lo assim, como mistério, em mim. Com todo o seu tremor, temor e abismo. Essa é a sagrada vertigem da vida. Que consagro e que me deixo ser levada, onde gosto de demorar-me, onde me encontro genuinamente, e tenho paz.
Vertiginosamente,
Denise Magalhães