domingo, 25 de março de 2012

"A gente vai contra a corrente, até não poder resistir..."

Carta a amiga


Por aqui:

Os ventos anunciam o fim dos dias
as notícias dos homens tristes
as folhas gritam sua prisão
outras se jogam pelo chão
as casas estão mortas
os cães nos olham desolados
a noite resiste a nos cobrir
a lua aceita seu destino
e as curvas bem que quiseram esconder
esse lugar nenhum

Três baldes e duas bacias me espiam
Tem amanhã.

Denise Magalhães
Tremores


Tenho segredos inaudíveis
Que nem eu mesma quero saber
Sei que estão lá
Ou aqui
Não sei o lugar dos segredos
Nem quero saber
Segredos são para se guardar
Até de nós mesmos
Chegar lá é perigoso
E se estão aqui
tremo de medo

Pressinto-os
No vento das tardes de domingo
Nos vãos da casa arrumada
No cheiro da comida no fogão
No ventre parido tempos atrás
Nas árvores do quintal
Nas marcas do meu rosto
Nos dentes amarelados pelo tempo
Nas veias sob a pele fina das mãos
Nas rachaduras de meus pés
Já tão cansados de caminhar

Carrego nas costas
o peso dos meus segredos
como a tampa dos sepulcros
E invento a vida dos dias
Em segredo.

Denise Magalhães

sábado, 17 de março de 2012

Cotidianos

A evolução dos espíritos
a redenção da carne
as missões
os pecados
as confissões
a esperança
a vida eterna
e suas criativas invenções.
Perdão!

Denise Magalhães
Da miserabilidade


Ah! A vidinha pessoal
cheia de assuntos providenciais
conflitos da infância
esconderijos secretos
solidões meticulosamente disfarçadas
a dois, a um, a três...
e um arsenal de medos
escapulindo espetacularmente
pelos olhares compenetrados
crentes de um papel qualquer
assumido como tábua-de-salvação.
Entre uma esquina e outra
Livrai-nos de todo mal,
Amém.

Denise Magalhães
Perdi a natureza para o amor
e seus romances
promessas
planos
invenções.
E, para que não haja mal entendidos,
isso não é bom ou ruim.
É.

Denise Magalhães